O Cubo Mágico
Já ouvi falar muitas vezes que a vida
é um jogo.
Daí a importância dos jogos na
educação infantil.
Daí o problema na vida dos adultos:
por que paramos de jogar quando crescemos?
Jogar pelo ato do prazer, do
estímulo, do gosto pelo desafio, de quebrar a cabeça.
Não é o jogo de azar, mas o jogo onde
há metas, percursos, soluções diversas, ou poucas, ou apenas uma!
Não poucas vezes me pego dando voltas
em círculos sobre um mesmo assunto, sobre um mesmo problema...
Esse tal de problema recorrente
é um problema de fato! Passa a ser chato demais. Evitamos, fugimos e parece que
ele foi costurado à nossa sombra. Colou não solta mais!
Lembro-me da história da mulher
esqueleto...
O pescador solitário foi pescar.
Faminto, não pegou nada e, ao invés disso, um esqueleto se enroscou em sua rede...
Ele corria para sua cabana e o esqueleto corria com ele. Ele se enfiou na cama,
o esqueleto junto. Cobriu-se e o esqueleto lá! Ele tremia de pavor! E agora? O
que eu faço?
Debateu-se. Enroscou-se mais! Chorou,
mas chorou muito... e nada.!
Até que cansou... Descansou.
Deixou-se cair ao lado do esqueleto.
No seu cansaço, apoiou a cabeça nos ombros do esqueleto. Encostou seu coração
no peito de ossos, seus pés tocaram os pés gelados do que um dia foi uma
pessoa. Não sentia mais. Não era mais gelado nem repugnante. Não tinha pavor,
nem nojo, nem nada...
Um dia, Baal Shen Tov encontrou um
lavrador cuidando da sua terra. Todas as terras ao redor estavam lindas e
prósperas, menos a daquele homem. Ele lavrava a terra
cuidadosamente, limpava cada semente e colocava uma a uma no solo, como se
fosse a um filho amado para dormir...
O esgotamento era visível em seu
rosto, mas ele persistia... e nada. Nada crescia naquela terra.
O mestre lhe falou com doçura: vá
para casa descansar, que eu cuido de tudo! O agricultou depois de muita
resistência concordou, já desmaiando de sono. Baal Shen Tov subiu em sua
carroça e voltou para sua cidade. Dias depois o agricultor acordou e sua
plantação era a mais linda do vale.
O pescador acordou, e ao seu lado, na
cama quentinha, uma linda mulher pôs fim a sua vida de solidão...
Difícil fugir do jogo do Cubo Mágico,
viro para cá, viro para lá. Azul com a azul, consegui! Amarelo com amarelo
também! Mas faltam os lados verdes, vermelho... já cheguei a pensar em
descolar os quadradinhos e colar no lugar certo só para ter o gosto de ver
todos os lados prontos! Não, ainda não fiz isso.
Na vida de gente grande temos que
aprender a encontrar saídas, por mais difícil que pareça, Ter jogo de cintura,
visão, estratégia... Qualidades de um bom jogador. Saber que nem sempre iremos
conseguir resolver a questão do modo como estamos acostumados. Há infinitos
jogos! E, infinitas regras!
Mas é na hora que relaxamos que
encaramos como uma brincadeira gostosa, um desafio para ser vencido e saboreado,
a vida fica realmente boa de ser vivida. Deixa de ser um fardo.
Confesso que para mim não é fácil, me
policio o tempo todo, tentando fazer desse meu tempo aqui o mais gostoso e útil
possível. Talvez por isso necessito de crianças perto de mim. Elas me ensinam a
ser leve. A brincar de novo, a encontrar graça e caminhos diversos em cada
desafio.
Ainda completarei meu cubo mágico.
Terei minhas terras prósperas. E não dormirei mais enroscada no medo!
Por Patrícia Amaral
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